Começando este conto de maneira clichê: Meu nome é Moisés, tenho 20 anos, sou um jovem rapaz negro, trabalhador, morador da Rocinha e estudante de história da UERJ ( Universidade Estadual do Rio de Janeiro ). O conto relatado é verídico, no entanto com algumas modificações para preservar a identidade dos envolvidos.
Tudo deu início em março de 2017, na UERJ, minha tão sonhada universidade, que estudei durante um ano para conseguir ingressar. Quando se é pobre e negro, iniciar no nível superior se torna a única maneira de sobrevivência e fuga da criminalidade.
Assim como a maioria dos negros, fui ensinado a me olhar no espelho e reprovar meu cabelo crespo, meu lábio carnudo e minha pele retinta. Essas características físicas, que hoje vejo que são lindas, mas na época nem tanto, sempre me fizeram se sentir inseguro em vários aspectos, mas principalmente no aspecto amoroso, ou seja, sempre tive dificuldade em me relacionar com mulheres. Por um tempo cheguei até pensar que o amor não servia pra mim.
Porém, tudo mudou quando conheci Aurora. Uma bela de uma preta, mega estilosa, um corpo escultural e super inteligente. A primeira vez que a vi, em uma palestra sobre Direitos Humanos, fiquei encantado com tanta beleza, inteligência e desenvoltura em falar em público.
Depois desse dia, passei a encontrar Aurora sempre pelos corredores com suas amigas. No começo, confesso a vocês, minha atração por Aurora era puro tesão, mas de tanto encontra-la, admira-la, acabou se tornando amor.
Passei a sonhar com Aurora todos os dias. A desejar o seu beijo, a clamar pelo o seu abraço, cheguei até ir para faculdade só para vê-la.
Após 4 meses de amor platônico, precisava arrumar um jeito de me aproximar de Aurora, criar uma intimidade e no momento certo me declarar. Pensei, pensei e pensei…. Tive uma ideia: Vou participar do mesmo grupo de militância que Aurora participa. Decidi o que fazer, agora é pôr em prática. Na segunda-feira procurei saber informações sobre as reuniões e depois de perguntar bastante consegui o horário, os dias que aconteciam e o local.
A primeira vez que fui fiquei mega nervoso, mas fui. Chegando lá, mal entrei e já avistei a minha amada linda. Cumprimentei como quem não tem segundas intenções e sentei para esperar a reunião começar. Enquanto eu estava sentado, não conseguia por nenhum momento tirar os olhos de Aurora. Acho até que ela percebeu. Até que enfim, ufa! Começou a reunião….. Assuntos sobre a solidão da mulher negra, o genocídio do jovem negro, masculinidade tóxica etc…. Assuntos, novamente confessos a vocês, que no começo eu achava um porre, mas depois de tanto frequentar as reuniões comecei a entender a importância de debate-los. Quando me dei conta, não estava indo mas as reuniões exclusivamente por causa da minha preta, mas sim porque eu estava interessado a debater e a conscientizar outros jovem negros, sobretudo os periféricos. Comecei a dar palestras sobre a população negra na própria UERJ e depois em outras universidades públicas e particulares. Quanto mais eu me envolvia na causa, mais próximo eu ficava de Aurora. Viramos bons amigos, mas não era o suficiente. Precisava declarar o meu amor, precisava de Aurora.
CONTINUA……………
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