Uma madrugada comum

Ela acordou naquela noite, às duas da madrugada e suas amigas estavam a dormir pesadamente como era costumeiro naquele quarto. Parecia que tinha chovido, o “cheiro de chuva” tomou a pequena sala do apartamento quando abriu a porta do quarto. O clima sempre agradável que fazia na cidade agora com a pitada romântica da chuva. Lembrou que desde sempre sentia coisas no corpo quando estava assim, como nas noites, dividindo o quarto com o irmão, altas horas faziam e as telhas ecoavam os pingos que caiam fortes, ela sentia molhar entre as pernas. Numa sensação diferente, instigante era inevitável não ceder. Ela suspirou, fechando os olhos, retornando em si e se achando boba. Foi até o banheiro, a calcinha, ao cair sobre seus pés, estava comumente molhada, de um néctar espesso, odiou aquilo. Será que dormindo ao lado de um mulher a fazia ter sensações involuntárias? Pensou. Tentou imaginar seus lábios tocando os de outra. Franziu os olhos. Não conseguiu. Lastimou o quanto era especialista em procrastinar, tinha trabalho inacabado. Olhou o celular, mais uma mensagem dele.


Acordada?
Por que? Mais uma vez? Mas não teve como impedir um certo orgulho e superioridade pela situação. Não resistiu.
Oi.
Vamos “se” ver agora.
Ela se viu enojada. Odiava aquele garoto, como um todo: seu jeito errado de falar, sua “burrice”, sua má educação, seu jeito horrível de tratar todos, sua falta de perspectiva. Ele reunia em uma única pessoa tudo o que ela detestava. Então lembrou do outro. E sofreu. A dor nunca antes causada, ao outro pertence o feito. Ela sentiu-se excitada. Como ódio causa libido? Impensável. Recordando dos momentos passados com outro, seu beijo tenro, envergonhado, língua tímida, respiração ofegante enebreava sua mente unida ao “cheiro de chuva”. Tudo ali a agradava, menos a altura dele, ela riu em seu íntimo.
Voltando a si, desceu a mão até ela, estava úmida, havia se sujado novamente. Odiou a si mesma.
Onde?
Aí.
Não posso, tem gente em casa.
Então vem pra cá. “Nóis” dá um jeito.
São 2h da manhã.
Eu vou te buscar. Vem ou não?
Um instante
Repulsivo, pensou. Se viu sem opções e com ódio, precisava se livrar daquilo. Demorou de propósito para se arrumar. Andou sem chinelo para não acordar as outras garotas, a porta do quarto sempre range. Colocou um legging sobre calcinha sexy e um sutiã que facilitava as “coisas”. Ele vai ser meu escravo, me satisfazer e só, divagou, imaginando o êxtase que sentiria. Colocou um casaco e saiu. Perguntou-se várias vezes porque diabos uma mulher tida e vista como absurdamente inteligente sairia às escondidas para ficar com um pária da sociedade. Ela não o amava, não sentia nada por ele, nem atração. Passou a chave na porta, com medo, temendo que a ouvissem. Atravessou todos os apartamentos do primeiro andar, indagando a si mesma como nunca havia sido pega, era tão óbvio e em uma localidade pequena nada é feito que ninguém note. Desceu as escadas, agradeceu aos céus a bendita câmera não funcionar, destrancou o portão e fechou furtivamente como uma ladra. Do outro lado da rua ele estava, esguio, sempre de olho na tela do celular, tentando esconder uma leve vergonha de estar diante de uma mulher mais velha. Ele estava rijo, ela sabia disso, se sentiu ainda mais superior por isso. Foi até ele.
Vamos?
Para onde?
Você vai ver.

Saíram. Ele balbuciou algumas coisas que ela não entendia. Dava a mínima para o que ele falava. Ficou prestando atenção em sua nuca, cor de ébano sob a luz amarela do poste, lembrava muito a do outro, suas costas, ele era esguio, cabelo ralo, olhos grandes, e o bumbum que ela adorava olhar, tão redondo e pequeno, ela pensava. Se sentiu um homem hétero cis naquela situação. Ele a fitou voltando seus olhos para trás, indicando que entrariam em outra rua.
Tem certeza que não tem ninguém acordado a essa hora?
Tem ninguém na rua, “tá” vendo não? Todo mundo tá no oitavo sono a essa hora, eu conheço.
Chegaram perto da casa dele. Ela sabia porque era o fim da rua e dava para uma fazenda, onde passava o rio, sem postes, dava pra ver a silhueta das formações rochosas, e aquele cheiro de mato molhado, tava bem frio, ela amava aquela sensação. Passaram um terreno baldio. Ele a encarou:
Minha mãe comprou uma casa, era uma […] – ela não conseguiu compreender – mas agora tá vazio, levo um colchão pra lá, se você quiser.
Não precisa, tá bom assim.

Ambos adentraram aquele terreno, muitos arbustos espinhosos, havia um caminho evidente, chegaram até esse imóvel, não tinha luz, ele a abraçou. Ela se sentia tão bem em abraços, tão protegida, sentiu o cheiro dele, era o perfume que ela amava. A imagem do outro veio novamente à mente. Ela estava hipnotizada. Retribuiu o abraço, desceu suas mãos pelas costas dele, sentia cada músculo até a cintura, ele gostava de jogar bola, tinha um corpo em forma e ela tanto que se aproveitava disso lendo seu corpo com as pontas dos dedos, chegou às nádegas, parecia uma escultora, voltou-se para o tórax, sentiu cada formação daquelas e ele tampouco preocupado, se ocupou somente em beijá-la. Seu beijo era molhado, dedicado, ela se sentia sendo “comida” e gostava daquilo.

Ele, cafajeste como sempre, agia como um animal, desfrutando sua caça, tirando suas roupas rapidamente, ela não deixou. O beijo desceu á nuca, ela arrepiou, sabia que estava ainda mais ensopada, ele voltou à sua boca. Parou. Seu olhar voltava-se para os seios dela, grandes, pontudos pelo que dava para ver do sutiã sem bojo, que ele não sabia o que era até ela o ensinar. Ela viu o que ele queria e suavemente tirou cada um de sua proteção para o deleite dele. Ela achava que ele queria apreciar. Sem demora ele deixou sua boca ir de encontro ao seio direito. Ela gemeu. Um gemido de súplica para que parasse e continuasse ao mesmo tempo, achava que iria ter orgasmos naquela hora, mas ela queria aproveitar. Ele lambia, sugava como uma criança mimada e faminta, aquela visão a agradava… Ela desceu sua mão para o centro dele, estava duro e molhado, ela não queria retribuir mas, estava com vontade. Ela ficou de cócoras. Olhou para cima, buscando o olhar dele, como se dissesse: “você quer, não quer?”. Beijou o prepúcio, deslizando seus lábios molhados por todo ele, deixou que os dois néctares se misturassem, permitiu que ele visse propositalmente. Ele gemeu. E segurou. Ela deu um beijo francês: colocando na boca e fazendo ele sentir sua língua deslizar. O fitou novamente:

Posso engolir? – achou engraçado a carinha de cão que ele fazia e riu.
Naquilo que parecia ser uma sala não iluminada, havia uma janela que dava para o rio, não havia ruas dali, só a natureza. Vinha dela uma brisa suave, pouco fria que, sentia ela, deixar a situação ainda mais excitante. Ali, de cócoras, pingando sua relva ao chão, colocando na boca, até chegar à garganta o pênis dele, sentia-se dominadora e se indagava, como sempre: – Como posso me sentir superior estando tão submissa? – viu que ele se segurava ainda mais. Ela já não aguentava de tesão:
Mete em mim.

Ela se levantou, foi em direção à janela, desceu o legging à altura dos joelhos, sua calcinha estava encharcada. Lamentou ter de lavar aquilo. Segurou no parapeito, agachou um pouco, empinou. Ele se masturbava para não gozar antes de entrar nela. Entrou. Ela sentiu dor, algo bom, fitou seu olhar pro horizonte, agradeceu por ninguém ter de ver sua face, disforme pela ânsia do gozo. Seus olhos, fechavam de prazer. Ele gozou. Sentiu o líquido descer entre as pernas. Ela gozou quando ele saiu de dentro dela.
Sentindo nojo dele ela o fitou, se vestiu e disse:

Vamos?
Tá bom.
Ele a acompanhou até à frente do condomínio. Fazendo o trajeto contrário ela lembrava do outro. O culpou por fazer aquilo, questionou sua estabilidade emocional, seus valores, ela não era ela. Aquilo foi tão rápido, com certeza não foi importante para nenhum dos dois. Sentiu-se suja, traidora de si mesma, vulgar. Se perguntava o motivo de fazer aquilo mas se respondia imediatamente: – não há motivos e não precisa. Ele mandou mensagem. Ela viu. Sem responder, voltou a dormir.

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