Consigo lembrar com clareza a primeira vez que vi uma prostituta, ou a primeira vez ao menos que podia ter certeza se tratar de uma, mas não era uma, eram várias. Foi no retorno de uma viagem da escola, no segundo ano, já era noite e íamos parar para jantar antes de seguir em frente para nossas casas.
O ônibus desacelerou em direção ao brilhante posto de gasolina que tinha um restaurante. Ao lado, na escuridão, retirados dela volta e meia pelo farol de um carro em alta velocidade estavam os caminhões e elas, as prostitutas. Eu olhei atentamente e com certo encantamento cada uma e contei doze mulheres esperando o próximo cliente com suas saias, shorts, vestidos curtos, tops ou apenas sutiãs, de casacos ou não, algumas soltavam fumaça no ar, outras andavam de um lado para o outro impacientes, ansiosas, ou, talvez, desesperadas, do outro lado da janela, tentava imaginar o som dos seus passos.
O ônibus foi abastecer, o restaurante era mais perto daquele lado escuro e os banheiros ainda mais perto dele, resolvi ir ao banheiro só para ouvir melhor suas vozes, os sapatos, os suspiros de tédio e impaciência e apreciar melhor alguns detalhes de suas formas e estilo nesse trajeto. Tínhamos ido ao litoral, eu estava de shorts, mas não tão curtos, uma blusa ajustada ao corpo, mas sem mostrar muita coisa, chinelos que não faziam aquele som potente dos saltos altos.
Eu não era próxima a ninguém na turma, faltava aulas com certa frequência pela minha saúde frágil da época, além disso, não compartilhava dos mesmos interesses, o que se somava ao fato de nunca ter gostado muito de manter relações com vínculos sólidos. Assim como estive só no banco do ônibus, estava aqui no restaurante, na mesa mais afastada, onde ainda podia observar uma delas negociando com um carro que se aproximou.
E eu me imaginei ali no lugar dela, apoiada na janela, com aquele vestido curto e escuro, revelando parte da sua bunda pálida como era a minha quando não tomava sol. Imaginei-me ali com a bunda empinada como a dela, o salto alto, dizendo meus valores, pensei quais seriam os dela, depois em qual seria o meu.
Pagar por mim daria todo domínio previamente estabelecido sobre meu corpo, esse domínio me excitava, pensar em mim no lugar dela me excitava, pensar nos meus valores me excitava, e me excitava ainda mais a cada vez que eu pensava em um valor menor.
Duzentos por tudo, cem apenas a buceta e o boquete, cinquenta só o boquete; Cem tudo, cinquenta a buceta, vinte e cinco o boquete; cinquenta tudo, vinte e cinco a buceta, dez o boquete; vinte e cinco para me usar inteira, dez para foder minha buceta e te chupar, lamber suas bolas, passar a língua na sua virilha, apenas cinco para me fazer chorar fodendo minha boca como qualquer outro buraco. Nesse momento já conseguia sentir a umidade entre minhas pernas.
Quando retornei ao ônibus ainda mais escuro que aquele lugar onde elas estavam, aproveitei minha solidão e o cansaço dos outros para não esperar chegar em casa e finalmente me tocar, decidida a me vender pelos últimos valores que pensei ainda que fosse apenas por uma única noite, se alguém notasse e ousasse perguntar eu diria, fingindo vergonha, que aquela umidade era apenas por não ter me secado direito ao sair da praia.
A chance surgiu quando uma artista que gosto bastante veio fazer um show numa cidade próxima, porém bem maior que a minha de trinta mil habitantes, era oportunidade perfeita para uma noite como prostituta e com chances reduzidas de ser flagrada por conhecidos. Iria ao show e teria que alugar um quarto pois não teria como retornar durante a noite para casa.
Nos dias anteriores entrei em salas de bate-papo para me informar sobre os pontos de prostituição, consegui alguns, após muitas tentativas frustradas nas conversas. Escolhi o ponto mais distante da minha cidade natal possível, um posto de gasolina muito parecido com aquele que despertou esse desejo. Olhei no Google Maps e havia um grande espaço onde ficavam caminhões, ele fica a beira da estrada rumo à capital, reservei um quarto numa pousada ali por perto. Cada dia passado aumentava minha ansiedade, minha euforia e sempre que minha mãe e minha irmã perguntassem dizer que era pela artista seria suficiente.
Quando o show acabou em torno das 21, peguei um Uber para pousada para trocar de roupa. Colocar a que havia comprado mais cedo no centro da cidade, roupas baratas de uma loja minúscula, que valessem tanto quanto eu queria dizer que meu corpo valia.
Uma mini-saia jeans que iria expor minha bunda se a empinasse e um sutiã preto com bojo para meus seios minúsculos, o salto era o mesmo do show e uma calcinha não seria necessária. O batom rosa tímido foi substituído por um vermelho vibrante, os olhos apenas com uma sombra quente, ganhavam um delineado provocante.
Deixei a pousada daquela maneira, às 22 horas, a recepcionista e uma faxineira foram as únicas testemunhas da minha descida da escada, as únicas a me julgar ao passar pela porta. Imaginei a conversa entre as dois enquanto me aproximava mais e mais do posto, caminhando para ele, isso trouxe o fogo a minha pele e entre as pernas, um calor que o frio do vento da noite lutava, mas não conseguia expulsar, restava-lhe evaporar um pouco dos fluídos que me escapavam.
Havia seis garotas esperando a beira da estrada quando adentrei a escuridão para me juntar a elas, me observavam, eu me mantinha a distância, sabiam que era nova ali, e talvez pensassem o que uma ruiva, branquela fazia ali quando o papai e a mamãe certamente pagavam tudo. Eu olhava os carros com expectativa, me imaginando já empinada dizendo meu valor: vinte e cinco para fazer tudo que quiser, o mesmo valor da minha saia vagabunda.
Ouvi uma porta abrir de um dos caminhões, não olhei para trás, apenas torci para que me escolhesse, concentrava-me nos passos, era apenas um, os passos eram arrastados, quando chegou perto de mim estava ofegante. “Carne nova, pelo visto.”. Ele disse e eu me virei sorrindo.
Ele vestia uma regata que deveria ser branca, mas estava suja, de graxa, de poeira, como sua calça jeans e eu imaginei ele ali desde a tarde depois de dirigir por horas, deve ter parado ali e fez alguns reparos, depois dormiu sem nem mesmo tomar banho e agora queria algo para voltar a dormir de novo.
Ele era negro, gordo, muitos pelos apareciam escapando da regata, e eu imaginei, me deliciando se suas bolas também era daquela maneira, a ideia de foder com aquele sujeito por tão pouco tinha feito tudo valer a pena, a espera, os gastos, o tempo fazendo planos.
Eu disse que sim, que era minha primeira vez ali, Ele vasculhou meu corpo, no trajeto deve ter ficado preso na minha bunda, a melhor parte do meu corpo, que compensa meus seios pequenos. Arredondada, firme, dos exercícios, da natação, do balé, demorou nas minhas pernas fortes e grossas pelo mesmo motivo.
“Por quanto faz com três? Tenho dois colegas comigo lá atrás no caminhão.”. Mordi meus lábios, não conseguia disfarçar minimamente minha excitação, era melhor do que eu tinha planejado. Vinte e cinco, vinte cinco para dar para três que eu queria que estivessem tão sujos quanto ele, fossem tão peludos quanto ele, tão frustrados quanto ele.
“Claro, faço.”. Respondi rindo. Ele perguntou “E quanto custa para usar todos os seus buracos até nos cansarmos de você?”. Cansarmos de você, foi o que me levou ao delírio pleno, depois de me usarem eles me descartariam, como uma criança que brinca muito com algo novo e enjoa rapidamente, deixa de lado, nunca mais toca.
Naquele tempo eu já compreendia que essa humilhação era o que mais me excitava, foder sempre com esses caras que outras como eu jamais foderiam e eles que nunca tinham experimentado desse poder com uma garota como eu, descontavam todas as suas frustrações nessa rara oportunidade. Uma vingança que me levava ao gozo mais intenso.
Quando o vinte e cinco saiu da minha boca, ele gargalhou, deve ter entendido que eu era uma vadiazinha que quis pagar de puta porque tinha tédio e uma boa imaginação. Eu o acompanhei e os colegas dele desceram do caminhão, para minha sorte, minha grande sorte eram tão sujos e pareciam tão frustrados e fracassados quanto ele, meu corpo ansiava intensamente por receber toda essa frustração.